23.6.12

OS CARISMÁTICOS BRASILEIROS

Por Felipe Medeiros

"Sabendo primeiramente isto: que nenhuma profecia da Escritura é de particular interpretação. Porque a profecia nunca foi produzida por vontade de homem algum, mas os homens santos de Deus falaram inspirados pelo Espírito Santo."
(2 Pedro 1:20-21)


(Nota dos blogueiros B&A: Não questionamos a sinceridade de alguns "carismáticos" [ou seja, pentecostais e neopentecostais], mas alguém pode ser sincero e, ao mesmo tempo, sinceramente enganado. Há muitas contribuições valiosas da parte dos nossos irmãos "carismáticos", mas são justamente esses "irmãos de verdade" que queremos advertir a respeito dos lobos devoradores no seu meio. Por outro lado, sempre existiu, existe e existirá também esses lobos no meio dos chamados "tradicionais". A lição para todos nós: SOLA SCRIPTURA... mesmo quando Ela confronta nossas conclusões bem enraizadas e tradicionais!)



No evageliquês brasileiro, não foi difícil encontrar certos comentários nos blogs reformados, em que aquele que comenta pergunta coisas como “quantas almas já ganhou para Cristo” , “fale de uma coisa que você conhece” , “não toque no ungido de Deus” ou “você é um frustrado que nunca falou em línguas ou não possuí dom de profecia” , etc. Os artigos que geraram tais comentários são aqueles que falam algo sobre megapastores “ungidos” de nossa atualidade, ou que falam sobre monergismo e sinergismo, calvinismo, dom espirituais. As agressões que esses comentários contém são as mais absurdas e demonstram a falta de leitura da bíblia e em função disto, uma conseqüente interpretação pessoal acerca de assuntos tratados no Santo Livro.


Infelizmente as interpretações pessoais são bastante freqüentes em tudo e todos que se usam o termo “evangélico” ao nosso redor. Não se faz uma análise acurada e tudo o que chega aos nossos ouvidos com o nome de origem cristã, logo é tida como “ah, se é de Deus…”. Assim, cada vez mais os evangélicos brasileiros aceitam o que quer que sejam em detrimento às Sagradas Escrituras simplesmente por fazer pouco uso delas, tornando-se cada vez mais carismáticos.


“Apesar de vários desejarem atribuir à Bíblia uma posição destacada de autoridade em sua vida, as Escrituras, com muita freqüência, ocupam segundo lugar em definir o que eles crêem (o primeiro é a experiência).” [1]


A fundamentação da fé cristã deve ser o ponto de partida para toda e qualquer experiência vivida e não as experiências fundamentando a fé, do contrário é negligencia a Palavra de Deus. Contudo, não parece existir um limite para a criatividade do religioso povo brasileiro que passa desde revelações em sonhos, palavras proféticas e etc. até chegar no quase culto a símbolos ou objetos (as meias e rosas ungidas, os copos com água em cima da TV, novas unções, apostolados etc.). Essa falta de limite tem destruído, até certo ponto, a possibilidade de um crescimento qualitativo do cristianismo no Brasil, aliás, se é que podemos chamar de cristianismo certas práticas neopentecostais.


Talvez a maior causa de todo a desordem teológica que temos vivido hoje seja fruto da desordem quando se ‘estuda’ a Bíblia. Primeiro se lê um texto isolado, que contenha alguma afirmação que sirva para o que se acha, depois ao seu bel prazer explicar a passagem como se ela fosse uma alegoria de carnaval bem enfeitada e que chega até a ser desejável a medida que a aplicação da palavra aumenta a emoção em 1000% e afaga o ego de quem ouve. Triste realidade! A alegorização das Escrituras tem o mal de fazer muitos seguidores famintos em ouvir que Deus esqueceu-se da justiça e passou a ser somente misericordioso, tão lastimável que muitos passam a crer em qualquer outro ser, menos no Deus verdadeiro.


Por fim, o evangelho relativizado, mal interpretado e mal exposto é , digamos, “o mal do século” para o cristianismo, de forma que as pessoas não se vêem mais como pecadoras nem muito menos reconhecem a dependência de Deus para todo e qualquer propósito de vida.


As interpretações particulares da Escritura Sagrada lamentavelmente constituem, em nossos dias, a forma moderna de se apostatar da genuína fé, pois as experiências não podem ser validas em si mesmas e nem opiniões próprias constituem a verdade revelada por Deus, mas sim a inerrante Palavra de Deus devidamente estudada, corretamente interpretada (não pelo que creio, mas pelo que o Espírito da Verdade revelar) e coerentemente exposta. É o evangelho que mostra ao homem a sua condição diante de Deus e não o homem que condiciona o evangelho a ser o que ele imagina que é, diante de Deus.



[1] MACARTHUR, John. O caos carismático. São José dos Campos-SP. Editora Fiel. p.395

***
Felipe Medeiros é estudante de física, músico e escreve para a UMP da Quarta. Gente boa (Cruz de Malta), dou fé. Divulgação: Púlpito Cristão.